O jogo político de pré-campanha eleitoral em Adamantina teve importante movimentação na última semana: a desistência do vereador Acácio Rocha (Podemos) de disputar o cargo de prefeito. Uma semana após o anúncio, o político descreve ao IMPACTO o cenário que acarretou a decisão, de articulações e posicionamentos partidários.
A intensão de Acácio Rocha em buscar o Executivo municipal ficou pública em julho do ano passado. Na época presidente do Democratas, partido do prefeito Márcio Cardim, o anúncio trouxe desconforto na legenda que considera a candidatura natural pela reeleição do atual gestor.
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Como reação, Cardim convidou o vereador a deixar o partido, conforme relatado ao IMPACTO por Acácio em 18 de fevereiro. A data também marcou oficialmente a ruptura do parlamentar com a Administração Municipal, que ele mesmo ajudou a eleger em 2016.
Após deixar a presidência do DEM, Acácio ingressou no Podemos em março, mantendo até então o posicionamento de pré-candidato à Prefeitura de Adamantina. Desde então, buscou viabilizar sua candidatura, o que não ocorreu, acarretando em sua desistência no último dia 3. Na reta final do período de convenções, que determina os postulantes que serão apreciados em 15 de novembro, o vereador relata o contexto político local. Confira:
IMPACTO: Em qual contexto ocorreu seu recuo?
Acácio Rocha: A política, sobretudo a campanha política, é um jogo. A cidade é um tabuleiro, e as peças são colocadas para a partida. Neste jogo faltaram algumas peças. E o jogo só pode começar com todas as peças, o que comprometeu o andamento do projeto. Em muitos aspectos avançamos neste um ano, como o diálogo com outros partidos, a inserção junto à cidade, aos moradores e eleitores, muito produtivo. Colhemos feedback das pessoas e, até agora, mesmo com essa decisão, ainda é volumoso. Mas, basicamente, faltaram algumas peças para compor o jogo da campanha eleitoral. Tivemos importantes diálogos com os partidos e poucas adesões. O cenário que mapeamos com pesquisa, tivemos elementos para entender que seria necessário ter aliança, composição e união. Prestes a encerrar o período de pré-campanha, iniciando já a agenda de convenções, isso não aconteceu. E tomei uma decisão, que poderia, por exemplo, ter deixado para convenção decidir que o Podemos não lançaria a minha candidatura. Poderia ter deixado, mas a decisão de antecipar minha posição foi também para destravar, deixar o partido solto, podendo surgir outra alternativa ou uma outra composição. Em todas as conversas com os partidos sempre coloquei a seguinte condição: olha, se eu não sou o nome que representa o grupo, que seja apresentado então um outro nome para pré-candidatura, uma outra opção e eu me colocaria, e sempre me coloquei, a disposição também de ser pré-candidato a vice-prefeito. Partido X e partido Y, se tiverem outro nome que tragam. E se eu puder compor com este projeto, sendo, por exemplo, o vice, vamos discutir isso. Então sempre ficou em aberto aos outros partidos trazerem nomes, sempre houve espaço, mas sempre mantive também a ideia de ser pré-candidato por conta do que identificamos de nomes potenciais para enfrentar o governo que está no poder, e dos nomes em potenciais que se projetaram no período de pré-campanha, quatro ou cinco, sempre tive posição de destaque e com mais condições de ir ao debate. Então, mesmo com todas as aberturas, essa convergência de ideias dos outros partidos com as do Podemos não aconteceu no momento que nos permitiria avançar no projeto, aí veio a decisão de recuar e destravar para que qualquer outra configuração que aparecesse tivesse tempo para construção. Neste ambiente hoje percebemos que o bastidor está se falando bastante, de todos os lados, e se houver alguma alternativa que me identifique com ela pretendo colaborar.
IMPACTO: A eleição deste ano, até o momento, demonstra mais uma vez a dificuldade de unir a oposição. Por quais motivos acredita que não há um trabalho em conjunto?
Acácio: Adamantina tem também uma situação bastante particular, que as candidaturas têm que ser aclamadas, lançadas por alguém, por algum grupo, colegiado. E eu fiz diferente, não fui lançado por ninguém. Fui para esse desafio, para esse projeto, a partir do que percebi na expectativa da cidade em querer mudança. Expectativa de alguns grupos políticos também por essa mudança. Expectativa de algumas legendas em querer mudança. Então me projetei. Agora, o porquê destes partidos não se unirem para viabilizar isso? Identifico uma série de fatores, sendo o mais preponderante: talvez os partidos não identificaram em mim, mesmo com uma projeção que a cidade apresentou de viabilidade, não acreditaram em meu nome, na minha capacidade de gerir e na minha história de vida. Talvez as questões de história de vida, de origem, das minhas posições, que muitas vezes trombaram com o caminho natural da sociedade. A sociedade entende que posições x e y são mais convenientes, são mais consensuais, e eu vinha com a posição de contradizer isso, seja por história de vida, por posicionamentos na Câmara, como político ou cidadão, então quando a gente confronta a sociedade com uma posição diferente daquilo que a própria sociedade tem expectativa ou acredita, então também tira espaço. Você tem alguns espaços com aquele que pensa diferente, age diferente, que tem um contraponto sobre um determinado tema, mas você perde a grande parte da sociedade que é mais conveniente, mais de certa forma acomodada, mais conservadora, então tudo isso pesou. Alguns partidos, mesmo aqueles com expectativa de mudança, também se prenderam a estes aspectos. Há partidos mais resistentes, conservadores, fechados. Porém, há outras legendas que se põem mais abertas, dinâmicas e receptivas. Vivenciamos essas experimentações, no diálogo com os partidos. Eu dificilmente me moldaria, recolheria tudo aquilo que acredito e defendo, tudo aquilo que já me posicionei, para me moldar ao que a sociedade quer. Sabia que enfrentaria isso, mas muito mais pela sociedade do que por um partido político. A sociedade, de certa forma, ela recebeu bem a ideia, o projeto. Mas dentro do ambiente político este crescimento não aconteceu. Aí os partidos políticos que defendem suas ideias, suas ideologias, que representam segmentos da sociedade adamantinense, não deram espaço ou não se permitiram a uma construção coletiva por todos estes fatores: conservadorismo, falta de acreditar em meu projeto, tudo pesou para não consolidação desta ideia.
IMPACTO: Você se sente frustrado?
Acácio: Não é uma frustação, mas decepção. A frustação te desestimula, te faz recolher, por isso digo que me decepcionei. Com essa decepção, a gente tem que agora interpretar, ver como a cidade se posiciona acerca das questões que virão em relação ao futuro governo municipal, a Câmara Municipal, tudo serão medidos. Frustação não, porque tudo que cada cidadão fala de mim, tudo o que já passei, as dificuldades já superadas, são mais motivadoras que esta situação vivenciada recentemente. O grande prejuízo não é para mim, sou que menos perco com essa decisão, minha vida segue, minha atuação profissional segue, mas acho que o prejuízo maior é para a cidade, que não se permitiu ao debate, a discutir ideias diferentes, não se permitiu a um enfrentamento de perspectivas ou de projeções que Adamantina precisa e deve buscar, então o prejuízo maior é para a cidade. Não que me coloco o único caminho para Adamantina, mas pelo menos um ambiente de debate, discussão, de confronto de ideias e questionamentos qualificados do que está no poder não teremos nesta campanha, salvo surgir nestes últimos dias uma situação nova.
IMPACTO: Em fevereiro anunciou que não se candidataria a vereador. E, agora, essa nova decisão encerra sua vida política?
Acácio: A gente encerra a possibilidade que prospectei, essa possibilidade que busquei se encerra para o próximo mandato. Eu tinha uma posição, que até o próprio IMPACTO noticiou em 18 de fevereiro, que não seria mais candidato a vereador, em qualquer configuração eu não sou. Então isso já estava definido. Trouxe essa informação para imprensa em fevereiro, mas era uma decisão amadurecida há bastante tempo. O fato novo é o recuo neste projeto de buscar a eleição para prefeito. Esse não que eu disse é em relação a esta eleição. Lá no futuro pode haver uma agitação nova. E como cidadão, profissional da comunicação, pretendo continuar acompanhando os atos do poder público, da própria Câmara, da Prefeitura e UniFAI, que são entes públicos, então essas energias e experiências não vão se perder. Para o futuro nada está descartado!
IMPACTO: Com sua decisão há articulação para um novo nome viável na disputa com Márcio Cardim?
Acácio: Desde o meu novo posicionamento há uma movimentação de bastidor, destravou alguns movimentos que estão ocorrendo, então pode ter uma situação nova até o último dia de convenções.
IMPACTO: Agora, sem o peso da pré-candidatura, como avalia a atual gestão municipal?
Acácio: Como sempre coloquei, posições de aprovação para as questões positivas para a cidade e sempre critiquei as posições que me incomodavam, que não refletiam expectativa da cidade. No geral será uma Administração que deixará um saldo de infraestrutura muito melhor para a cidade, isso é visível e temos consciência disto, mas que ainda precisa resolver questões de relacionamento, e isso passa pela discussão das questões econômicas, sociais, há ainda muitos indicadores preocupantes que precisam ser revertidos, nas áreas da saúde, educação e assistência social. Então há um avanço estrutural importante, mas indicadores sociais que precisam ser melhorados, como também o diálogo com a sociedade que até hoje não aconteceu, uma administração que ainda se põe como autossuficiente, que não precisa do diálogo, da participação da Câmara, da sociedade civil. Passados quase quatro anos, ainda não aprendeu a lidar com diálogo com a cidade. É uma administração também que agora começa a ficar visível que não é perfeita, absolutamente perfeita como alguns segmentos projetam, tentam inserir na sociedade que foi uma administração que fez milagres por Adamantina, que nunca deveria ser mudada, e agora também começa a aparecer situações de denúncias, de apurações no Ministério Público, pelo Tribunal de Contas que envolvem todo o processo de gestão municipal. Pelo sistema do Ministério Público é possível consultar toda a movimentação dos promotores e consta que entraram recentemente três inquéritos civis. A gente percebe que o Tribunal de Contas considerou todo aquele cenário de início de gestão, e agora em 2019 as contas apresentam uma série de problemas que começam a aparecer. Aquele cenário de Administração perfeita, sem erros e sem falhas, começa a ser desconstruído. É situação de má fé? De falha na gestão do serviço público? Somente o Ministério Público e o Tribunal de Contas podem apurar. Mas que existem problemas, eles existem, claro que serão identificados e apurados pelos órgãos fiscalizadores. Em relação a UniFAI tem uma situação bastante preocupante, porque a própria Instituição respondeu para os vereadores, que apenas na mudança do primeiro para o segundo semestre cerca de 600 alunos abandonaram o curso ou trancaram matrícula. A Instituição perdeu a receita de pelo menos 600 alunos na virada deste semestre, culpa da pandemia e da própria dificuldade da Instituição em abrir espaço de diálogo com os pais e alunos de flexibilizar alguma situação de mensalidade. Fora os números que nos foram apresentados e também ao Ministério Público, de perda de receita, de cursos ociosos, de cursos vazios, dão prejuízos, e este déficit impossibilita que a Universidade dê descontos. Tudo isso já tem apuração do MP.
IMPACTO: Com a sua candidatura estes temas seriam debatidos. E agora?
Acácio: O eleitor tem o poder de fazer essas cobranças aos candidatos, seja o que está na situação ou qualquer um outro. Se não houver pela configuração do cenário político um ambiente de debate que permita trazer os temas importantes, que permita trazer as fragilidades que a Administração tem, que permita evidenciar problemas que não tiveram tanto espaço para discussão, o cidadão e a própria imprensa tem esse papel de cobrar. Se não for pelo próprio debate dos candidatos, que seja por um estímulo do cidadão ou da sociedade como um todo. Espaço tem, elementos para explorar os ganhos, os prejuízos da cidade, os pontos positivos e negativos têm, e esperamos que a configuração de campanha possa ser sensível a discutir verdadeiramente situações da cidade sem maquiar os números e situações do dia a dia.