Não! Definitivamente não estou falando dos vinhos suaves, aqueles que são chaptalizados (recebem adição de açúcar durante a fermentação).
Os vinhos doces os quais estou me referindo são aqueles que agregam um certo teor de açúcar de forma natural, resultado da doçura da uva e do método de produção.
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De modo geral podemos falar de dois tipos de vinhos doces: os fortificados, cujo exemplo mais conhecido é o Vinho do Porto e os de colheita tardia (late harvest) que são o objeto desta matéria.
Uma curiosidade é saber que no passado, desde a civilização greco-romana até a época dos grandes imperadores, os vinhos preferidos eram os doces, verdadeiros néctares, sendo que foi somente a partir do século XIX que os tintos secos ganharam maior notoriedade.
Os vinhos doces não fortificados, também chamados vinhos de sobremesa, são produzidos com uvas de alto teor de açúcar. Para se obter essa doçura os enólogos usam diferentes técnicas.
Um dos métodos é deixar as uvas maduras na parreira até que elas, de forma natural, tornem-se passas, ou seja, as uvas são colhidas tardiamente. Mencionada técnica faz com que as uvas percam água e concentrem açúcar.
Outra forma é colher as uvas quando elas estiverem maduras, deixando-as espalhadas sobre esteiras, até que também se tornem passas.
E ainda há outra técnica, mais sofisticada e que resulta em vinhos mais finos, mas que depende da natureza, razão pela qual apenas algumas regiões privilegiadas são capazes de produzir esses vinhos. São os vinhos botritizados, aqueles produzidos com uvas atacados por um fungo, chamado botrytis cinérea. Esse fungo aparece somente sob certas condições, em determinadas temperaturas e quando, pela manhã, os parreirais são atingidos por névoa úmida. O fungo fura a uva, causando perda natural da água e a concentração de açúcar, de forma que o que poderia ser um desastre para o vitivinicultor, torna-se, na verdade, um trunfo para produção de vinhos de excelente qualidade.
Os vinhos mais famosos produzidos com essa técnica são os vinhos de Sauternes, na França, que alcançam altos preços. Para se ter uma ideia, no site da Mistral, o Sauternes mais barato é uma garrafa de 500 ml, que custa R$ 296,19.
Dentre os vinhos de colheita tardia destacam-se os Moscatéis de Setúbal (Portugal) e os Mombazilacs (França), porém, em várias outras regiões do mundo se produz vinhos doces de boa qualidade.
Se você nunca experimentou e deseja conhecer esse estilo de vinho eu recomendo começar pelo Colheita Tardia da Vinícola Aurora, um vinho muito bem feito e barato (R$ 17,80 na adega da Cocipa).
Produzido com as uvas brancas Malvasia e Moscato, tem paladar suave, corpo médio, graduação alcoólica de 12,5%, coloração amarelo-ouro, aromas de frutas secas e mel, com paladar agradável.
Os vinhos doces podem ser tomados em três ocasiões: como aperitivo e nesse caso pode ser acompanhado por queijos azuis, como o gorgonzola, por meio da harmonização por contraste (doce x salgado), no final da refeição, como digestivo ou acompanhando sobremesas.
A regra para acompanhar sobremesa é que o vinho seja mais doce de que o prato. No caso do Colheita Tardia da Aurora o vinho pode ser harmonizado com bolos recheados, mousse de maracujá, torta de limão e pudim de leite, por exemplo.