“Árvores são poemas que a terra escreve para o céu. Nós as derrubamos e as transformamos em papel para registrar todo nosso vazio”. Khalil Gibran
Umbuzeiro solitário, testemunha ocular do drama do progresso, qual um capricho dos deuses plantei você no mandato do pai, e você escapou da morte no mandato do filho!
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Em singelo recanto da Praça Prestes Maia, onde às vezes as crianças brincam e as pessoas cansadas se abrigam do sol, você continua altaneiro, levando ao céu seus vigorosos galhos, como um guerreiro preparado para a luta! Você faz parte do poema vivo de uma romântica época que se foi, como a gloriosa música dos troianos nas primeiras batalhas e a comovente narração dos que conseguiram sobreviver às espadas gregas!
Nem Prometeu acorrentado nem a lenda do assum preto comovem mais que você, bom vegetal, descendente direto da difícil vida do sertão nordestino! Por que ainda continua de pé, solitário, se seus companheiros há muito tombaram? Quer que todos conheçam a sua história? Que assim seja então!
Foi numa manhã fria de julho de 1989 que se deu nosso primeiro encontro. Você não passava de uma pequena estaca encostada no posto de monta da prefeitura quando o levei ao almoxarifado municipal.
Como eu não conseguia achar um bom lugar para fincar suas raízes, procurei o companheiro Ézio Valverde, que já não está entre nós, e juntos decidimos que você seria a mais nova árvore frutífera da pequena horta que havia ao lado do lavadouro de veículos. O tempo passou, você cresceu, o antigo almoxarifado fechou e os servidores se mudaram para um novo e distante local de trabalho.
Sozinho você viu a demolição das antigas instalações, e nada pôde fazer, além de se entristecer diante da solidão que o esperava, ao observar vigas e mais vigas de concreto serem levadas para as nascentes do córrego do Caldeira!
Umbuzeiro solitário, só quem não o conhece ignora seu valor. Os índios tupis o chamavam de “ymbu”, a “árvore que dá de beber”, e Euclides da Cunha, pelo que você representa para os sertanejos, o batizou de “árvore sagrada do sertão”.
E não pense, boa árvore, que a homenagem dos índios e a reverência do grande escritor são meras palavras. Nas secas prolongadas do semiárido nordestino são seus frutos, suas folhas e mesmo suas raízes que fornecem água e alimento para os animais e para as pessoas.
Muitas gerações ainda virão antes que seus tortuosos galhos sequem. A vida de sua espécie é longa e pode testemunhar o que ocorre no ambiente em que vive durante um século! Passaremos todos, mas você ficará. Isso se as pessoas souberem reconhecer o seu significado.
Enfim, velho amigo, encerro esse pequeno texto pedindo aos frequentadores da Praça Prestes Maia que não só observem com carinho sua silhueta e com ela se encantem, mas também que considerem sua graciosa presença no local como um símbolo da necessidade que todos nós temos de preservar a natureza.
Obs: publiquei este texto pela primeira vez em março de 2009, portanto há quase oito anos. No entanto, vejo que ainda hoje não são muitas as pessoas que respeitam a natureza em nossa cidade.