*Por Eduardo Fonseca – jornalista, educador e advogado – [email protected]*
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Olho para mim, ultimamente, e me vejo pesquisando, escrevendo, falando, gravando programas, revendo meus guardados, livros, anotações e registros de trabalhos feitos no passado sobre o futebol. Enquanto isso, lá longe, na península arábica, mais precisamente no emirado do Catar, país do tamanho de parte do estado de Sergipe, que construiu, numa cidade e arredores, oito estádios para, em média 60 mil pessoas, a bola rola e a história não para.
Resolvi então, questão lógica, ater-me um pouco mais a Neimar, Casimiro, Richarlisson, Messi, De Bruine, Cristiano Ronaldo e Harry Kane e guardar, por um tempo, nas prateleiras do passado, Pelé, Garrincha, Beckenbauer, Leônidas, Puskas, Cruijff, Romário e cia…
Com todo cuidado, porém, pois essas prateleiras são sagradas nesse jogo da bola.
Catar, Fifa e a insensatez
Para falar a verdade, apesar de reverenciar o investimento feito pelos catares na educação (aliás, escrevi numa edição deste jornal, que o professor e amigo Divo Rostoff, quando visitou Doha, ficou encantado com a Universidade local, que tem convênios e parcerias com as principais universidade do mundo e abriga alunos de diversas nacionalidades , com pesquisa avançada e sérios projetos científicos), a escolha do Catar para sediar a 22ª edição da Copa parece-me um misto de política e finanças pouco transparentes. O documentário feito pela Netflix sobre a Fifa mostra essa decisão, que afastou o então presidente Blatter da entidade.
Contextualizando o o cenário esportivo, o mundo continua não merecendo eventos dessa natureza. Em 1930, os europeus não quiseram vir ao Uruguai. Muito distante e… despreparado, diziam; em 34 e 38, assim como nas Olimpíadas de Berlim, em 36, técnicos obrigados por dirigentes e seus jogadores faziam, acintosamente, saudações fascistas. Mussolini disse ao técnico Vitorio del Pozzo da esquadra azurra (que jogava de preto): “VENÇAM, ou MORRAM”. Em 1950, os políticos brasileiros forçaram os jogadores a toda espécie de baixarias politiqueiras antes da final.
E tivemos também boicotes: os uruguaios bicampeões boicotaram as copas da Itália e da França, em retaliação. A Espanha não joga em 1938 pela sua guerra civil. Alemanha e Japão não disputaram a copa de 1950 como culpa da grande guerra. Os americanos boicotaram a Olimpíada de Moscou e os russos boicotaram a de Atlanta. Sérvia foi impedida de disputar a copa de 1994 pelos crimes de guerra contra bósnios e croatas. Africanos boicotaram a Copa na Inglaterra por mais vagas e pelo não posicionamento quanto ao apartheid na África do Sul. Para atualizar, os russos não puderam ir ao Catar face sua visita indesejada e agressiva à vizinha e prima irmã Ucrânia.
O Brasil quando A bola rola…
Mas, apesar da insensatez humana, o ludopédio arrebata as multidões.
O Brasil não tem a principal economia do mundo. Não tem bons números no ranking educacional. Está longe de ter equilíbrio social. As desigualdades são gigantescas. Favelas, violência, poluição ambiental. Mas quando a bola rola… Tamo na área!
Então vamos. Pronto para esquecer tudo isso comemoro duas boas atuações da canarinha contra Servia e Suíça. Quem ouve no rádio o programa que fazemos, sabia que não seria fácil. A Sérvia é a herdeira bastarda da ex-Iugoslávia que nos infligiu a primeira derrota em Mundial com o 2 x 1 de Montevidéu em 1930. E que nos impôs a maior goleada da história num amistoso pós copa de 34, os 8 x 4 em Belgrado. O que impediu nossa vitória em 1954, com empate de 1 x 1. Jogamos contra eles, na estreia, de forma muito segura. Apertamos o cerco no último terço do jogo, fizemos dois, podíamos ter feito mais. Perdemos Neimar e Danilo, mas ganhamos confiança com cautela para sentir nosso potencial. Vem a Suíça que tirou a Itália da Copa e a França da Eurocopa. Que inventou o ferrolho e que nunca havia perdido para o Brasil em torneios oficiais. Tivemos muita segurança defensiva, disciplina tática e intensidade de marcação alta. Richarlisson brilhou no primeiro jogo. Casimiro, na sequência.
Daqui até o Natal
Classificada, a seleção vai poupar jogadores contra Camarões. E esperar seu adversário: ou Gana, ou Uruguai, ou Coréia se essa golear os portugueses. Passando nas oitavas tudo indica a Espanha, nas quartas, o que seria, pra mim, uma final antecipada. Inglaterra, Portugal, Argentina e França pelo andar da carruagem só na final. Continuarei estudando, pesquisando, assistindo, registrando. Ainda dá tempo de aprender alguma coisa.Afinal Mbappe e os le bleu; Busquets e os tica taca de Luiz Henrique; De Bruine e os diabos vermelhos; Messi e los Hermanos; Kane e os súditos de King Charles; Cristiano e os patrícios e Vini Jr e os madrilenhos de Tite estão todos à solta. E o maior espetáculo da Terra vai até domingo antes do Natal.
Que o velho Noel nos dê a Taça.
Aí sim, quando a bola parar de rolar, a história ficará mais bonita.